A mulher é uma degenerada
Maria Lacerda de Moura (1887-1945) nascida em Manhuaçu (MG), foi uma pensadora anarquista brasileira e pacifista. Precursora do que se denomina, hoje em dia, como anarcofeminismo. Filha de uma família de classe média, cursou a Escola Normal em Barbacena, tornando-se professora primária. Foi extremamente ativa e lida por intelectuais, militantes e escritores tanto do Brasil quanto da Espanha, Argentina e Chile. Suas publicações denunciavam as múltiplas formas de dominação burguesa e da exploração capitalista do trabalho, para além da violenta crítica da cultura patriarcal.
"É muito medíocre o anseio de ser igual ao homem... De reinvidicar seus direitos, dentro desta organização social de escravos e máquinas a serviço da mediocracia e do industrialismo.
Vamos mais longe!"
Sua História
Combativa ativista anarcofeminista, Maria Lacerda de Moura escreveu mais de vinte livros e muitos deles tiveram reedições revisadas pela autora tanto em português quanto em espanhol, algumas de suas publicações mais conhecidas são: Renovação (1919, 2015), A mulher e a maçonaria (1922), A fraternidade na escola (1922), A mulher é uma degenerada (1924, 1925, 1932, 2018), Han Ryner e o amor plural (1928, 1933), Religião do amor e da beleza (1926, 1929), Serviço Militar para mulheres: recuso-me e outros escritos (1931, 1999), Amai e… não vos multipliqueis (1932), Clero e fascismo: horda de embrutecedores (1933, 2018), Fascismo: filho dileto da igreja e do capital (1934, 2012, 2018).
Apesar da importância de sua obra, Moura foi submetida a um apagamento histórico, que tentou
invisibilizar seu pensamento desviante e audacioso. Seus escritos tornaram-se de conhecimento público
apenas na década de 80, através de uma bibliografica publicada pela historiadora feminista, já falecida,
Miriam Moreira Leite, intitualdada: Outra face do feminismo: Maria Lacerda
de Moura.
Foi uma crítica da moral sexual burguesa, que considerava repressiva e hipócrita,
defendendo a educação sexual dos jovens, o amor livre, o direito ao prazer sexual, o divórcio e a
maternidade consciente. Denunciou o "contrato sexual" implícito no contrato social, que exigiria o
direito ao corpo e ao prazer sexual das mulheres. Segunda ela, a sociedade estabelece partilhas
profundamente nocivas ao desenvolvimento humano, pois assentadas na escravidão da mulher e no servilismo
dos fracos e, nesse sentido, o casamento monogâmico beneficiaria exclusivamente o homem, e não a mulher.
Para ela, o amor só pode ser plenamente vivido fora do casamento, de maneira livre e plural. Ela desenvolveu reflexões extremamente avançadas sobre este tema. O amor seria a principal força que motivaria o ser humano e, portanto, não deveria ser submetido por nada. Maria Lacerda entendia que o amor seria justamente o afeto capaz de romper com o princípio do ego e, por isso, seria contraditório com o ciúme. O amor plural seria aquele que se divide com mais de uma pessoa, sem possessividade e sem, no entanto, perder sua essência.